SEXTA DE TEXTOS - Sávio Pinheiro
OS PECADOS CAPITAIS
DO SERTÃO DE LAMPIÃO
O sertão globalizado
Fez o povo se sentir
Com a mente mais aberta
Para poder resistir
Pondo em sua consciência
O direito de ir e vir.
Nos idos de um passado
Pensava-se diferente,
Pois sem comunicação
O povo não era gente,
E sob os pés do poder
Era um bando de indigente.
A mais pura informação
Do homem simples do campo
Era o verso de cordel,
Que neste texto eu estampo,
Pois não existia TV,
Rádio, Jornal, nem o Grampo.
O pecado pioneiro
Que apareceu no sertão
Foi a IRA incorporada
Pelo bravo Lampião,
Pois a sede de vingança
Passou de irmão para irmão.
Essa briga começou
Por causa de um capataz,
Que de Lampião roubou,
De modo muito fugaz,
Um chocalho sem valor,
Que exterminou com a paz.
O vaqueiro pertinaz,
Que tanta encrenca arrumou,
Trabalhou pra os “Saturnino”,
Que a culpa lhe retirou,
Junto com o delegado,
Cujo dinheiro o comprou.
Travou-se, então, uma briga
Do povo de Lampião,
Pois a fúria dos “Ferreira”,
Fez crescer a confusão
Diante dos “Saturnino”
E as volantes do sertão.
O ORGULHO do poder,
A raiz do grande mal,
Fez daquele simples drama
Uma discórdia imoral,
Pois não havendo justiça
O bem perde a sua moral.
Existindo o preconceito
E a discriminação,
A injustiça social
Passeava no sertão,
Pois o rico e o poderoso
Manobravam o cidadão
O astuto desbravador,
Que avançava sobre a terra,
Tirava a vida do índio
Numa verdadeira guerra
Ou, então, o escravizava
À força, num pé de serra.
O negro sentia na pele
O orgulho do patrão,
Que o destratava na ponta
Da chibata e do facão
Explorando o seu trabalho
Sem a menor compaixão.
A GULA no sertão brado
Não era só pra comer,
Era a gula do dinheiro
Da ganância e do poder,
Que dava, apenas, a um grupo
O bom prazer de viver.
Nas fazendas e usinas,
A fartura era envolvente,
Onde os coronéis comiam
Todo banquete existente
Deixando para o roceiro
Só miséria, unicamente.
A gula estava presente
Também na fome que dava
No humilde trabalhador,
Que do roçado tirava
Mangas maduras e belas,
Que o seu instinto mandava.
Por conta deste costume
Puro, mas impertinente
Espalhava-se no campo
Por um chefe inteligente,
Que leite e manga, matava,
Até vaqueiro valente.
A AVAREZA do rico
Foi um fato verdadeiro.
Não ajudava a ninguém
E, apesar, de ter dinheiro
Transformava o povo humilde
Num submisso guerreiro.
O sofrimento externado
Pelo fiel sertanejo
Não vinha só do patrão,
Que lhe tirava o traquejo,
Mas também do governante,
Que só mandava o sobejo.
Outro pecado existente
De semblante muito feio
Era a INVEJA enrustida
Naquele seleto meio
Num desejo violento
De possuir o bem alheio.
Aquela inveja existia
No comando da nação
Provocando desavenças,
Mesmo no alto escalão,
Castrando, até, o poderoso,
Que não fizesse a lição.
O grupo majoritário,
Que ao povo não dava estudo,
Sentia a necessidade
De viver feliz, contudo,
Como só tinha a ganância
Dominava quase tudo.
Na senzala ou na favela
Existia uma aliança,
Onde o povo possuía
Um desejo de bonança,
Porém no poder central
Só se pensava em vingança.
A inveja sendo um pecado
Do ser que não tem talento
Dava vez à incompetência
Para formar um intento,
Favorecendo ao golpista
Parar o bom elemento.
Outra postura indecente,
Que provocou letargia,
Foi a PREGUIÇA existente
No ser que não produzia:
Um freio muito potente
Numa esperança, que havia.
Ela mostrava os seus dentes
Na boca do preguiçoso
Retirando o dinamismo
Da mente do esperançoso,
Tirando do sertanejo
O seu papel grandioso.
A preguiça física faz
A quebra da produção
Do produto da lavoura,
Que sai debaixo do chão,
Diminuindo a fartura
E a boa safra de grão.
Porém outra maldição
Que maltrata o capital
E leva o povo à pobreza
Destruindo em vendaval
É a apática emoção,
Dita preguiça mental.
Para um soberbo grupo
Preguiça não tinha vez,
Pois o agricultor sofrido
Um bom trabalho ele fez
Com coragem e com vigor,
Muito afinco e altivez.
Muita gente envolvia
O poder com sedução
Utilizando meninas
Para a prevaricação
Utilizando a LUXÚRIA
Para a sua diversão.
O assédio sexual
Dava a tônica no momento,
Onde grupos poderosos
Com mulheres ao relento,
Na ganância pelo sexo
Detinham forte argumento.
A posição hierárquica
Maquinava as seduções
Obrigando a essas mulheres
A omitirem filiações
Gerando filhos bastardos
Maltratando as gerações.
No frescor da inocência
Houve muitos casamentos
Onde uma irmã com um irmão
Recebiam sacramentos
Casando-se sem saberem
Desses maléficos intentos.
Esse padrão de luxúria
Tão presente na nação
Existia com frequência
Em qualquer situação:
Nos meios favorecidos,
No bando de Lampião.
Falando-se de luxúria
Outra maneira existia,
Pois quem não tinha mulheres
Abusava da ousadia
Exterminando o desejo
Fazendo zoofilia.
Pecado vem de “pecare”,
Cujo significado
Quer dizer errar o alvo,
Maculando-se culpado;
Transgressão religiosa
Também traz o seu legado.
Finalizo este poema
Sem ORGULHO ou AVAREZA,
Sem INVEJA, sem PREGUIÇA,
Sem IRA e sem esperteza
Sem a GULA da LUXÚRIA,
No seio da natureza.
Fim
DO SERTÃO DE LAMPIÃO
O sertão globalizado
Fez o povo se sentir
Com a mente mais aberta
Para poder resistir
Pondo em sua consciência
O direito de ir e vir.
Nos idos de um passado
Pensava-se diferente,
Pois sem comunicação
O povo não era gente,
E sob os pés do poder
Era um bando de indigente.
A mais pura informação
Do homem simples do campo
Era o verso de cordel,
Que neste texto eu estampo,
Pois não existia TV,
Rádio, Jornal, nem o Grampo.
O pecado pioneiro
Que apareceu no sertão
Foi a IRA incorporada
Pelo bravo Lampião,
Pois a sede de vingança
Passou de irmão para irmão.
Essa briga começou
Por causa de um capataz,
Que de Lampião roubou,
De modo muito fugaz,
Um chocalho sem valor,
Que exterminou com a paz.
O vaqueiro pertinaz,
Que tanta encrenca arrumou,
Trabalhou pra os “Saturnino”,
Que a culpa lhe retirou,
Junto com o delegado,
Cujo dinheiro o comprou.
Travou-se, então, uma briga
Do povo de Lampião,
Pois a fúria dos “Ferreira”,
Fez crescer a confusão
Diante dos “Saturnino”
E as volantes do sertão.
O ORGULHO do poder,
A raiz do grande mal,
Fez daquele simples drama
Uma discórdia imoral,
Pois não havendo justiça
O bem perde a sua moral.
Existindo o preconceito
E a discriminação,
A injustiça social
Passeava no sertão,
Pois o rico e o poderoso
Manobravam o cidadão
O astuto desbravador,
Que avançava sobre a terra,
Tirava a vida do índio
Numa verdadeira guerra
Ou, então, o escravizava
À força, num pé de serra.
O negro sentia na pele
O orgulho do patrão,
Que o destratava na ponta
Da chibata e do facão
Explorando o seu trabalho
Sem a menor compaixão.
A GULA no sertão brado
Não era só pra comer,
Era a gula do dinheiro
Da ganância e do poder,
Que dava, apenas, a um grupo
O bom prazer de viver.
Nas fazendas e usinas,
A fartura era envolvente,
Onde os coronéis comiam
Todo banquete existente
Deixando para o roceiro
Só miséria, unicamente.
A gula estava presente
Também na fome que dava
No humilde trabalhador,
Que do roçado tirava
Mangas maduras e belas,
Que o seu instinto mandava.
Por conta deste costume
Puro, mas impertinente
Espalhava-se no campo
Por um chefe inteligente,
Que leite e manga, matava,
Até vaqueiro valente.
A AVAREZA do rico
Foi um fato verdadeiro.
Não ajudava a ninguém
E, apesar, de ter dinheiro
Transformava o povo humilde
Num submisso guerreiro.
O sofrimento externado
Pelo fiel sertanejo
Não vinha só do patrão,
Que lhe tirava o traquejo,
Mas também do governante,
Que só mandava o sobejo.
Outro pecado existente
De semblante muito feio
Era a INVEJA enrustida
Naquele seleto meio
Num desejo violento
De possuir o bem alheio.
Aquela inveja existia
No comando da nação
Provocando desavenças,
Mesmo no alto escalão,
Castrando, até, o poderoso,
Que não fizesse a lição.
O grupo majoritário,
Que ao povo não dava estudo,
Sentia a necessidade
De viver feliz, contudo,
Como só tinha a ganância
Dominava quase tudo.
Na senzala ou na favela
Existia uma aliança,
Onde o povo possuía
Um desejo de bonança,
Porém no poder central
Só se pensava em vingança.
A inveja sendo um pecado
Do ser que não tem talento
Dava vez à incompetência
Para formar um intento,
Favorecendo ao golpista
Parar o bom elemento.
Outra postura indecente,
Que provocou letargia,
Foi a PREGUIÇA existente
No ser que não produzia:
Um freio muito potente
Numa esperança, que havia.
Ela mostrava os seus dentes
Na boca do preguiçoso
Retirando o dinamismo
Da mente do esperançoso,
Tirando do sertanejo
O seu papel grandioso.
A preguiça física faz
A quebra da produção
Do produto da lavoura,
Que sai debaixo do chão,
Diminuindo a fartura
E a boa safra de grão.
Porém outra maldição
Que maltrata o capital
E leva o povo à pobreza
Destruindo em vendaval
É a apática emoção,
Dita preguiça mental.
Para um soberbo grupo
Preguiça não tinha vez,
Pois o agricultor sofrido
Um bom trabalho ele fez
Com coragem e com vigor,
Muito afinco e altivez.
Muita gente envolvia
O poder com sedução
Utilizando meninas
Para a prevaricação
Utilizando a LUXÚRIA
Para a sua diversão.
O assédio sexual
Dava a tônica no momento,
Onde grupos poderosos
Com mulheres ao relento,
Na ganância pelo sexo
Detinham forte argumento.
A posição hierárquica
Maquinava as seduções
Obrigando a essas mulheres
A omitirem filiações
Gerando filhos bastardos
Maltratando as gerações.
No frescor da inocência
Houve muitos casamentos
Onde uma irmã com um irmão
Recebiam sacramentos
Casando-se sem saberem
Desses maléficos intentos.
Esse padrão de luxúria
Tão presente na nação
Existia com frequência
Em qualquer situação:
Nos meios favorecidos,
No bando de Lampião.
Falando-se de luxúria
Outra maneira existia,
Pois quem não tinha mulheres
Abusava da ousadia
Exterminando o desejo
Fazendo zoofilia.
Pecado vem de “pecare”,
Cujo significado
Quer dizer errar o alvo,
Maculando-se culpado;
Transgressão religiosa
Também traz o seu legado.
Finalizo este poema
Sem ORGULHO ou AVAREZA,
Sem INVEJA, sem PREGUIÇA,
Sem IRA e sem esperteza
Sem a GULA da LUXÚRIA,
No seio da natureza.
Fim