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Reflexão

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

"TRILOGIA DO CICLO DO JUMENTO"

Patativa do Assaré, Zé Clementino fez parte da “Trilogia do Ciclo do Jumento”, um movimento idealizado em Crato, em defesa do jegue. A iniciativa tomou dimensão nacional através da música e da poesia dos quatro defensores do jumento. A campanha ganhou mais intensidade na década de 80, quando os quatro se encontraram na Exposição Agropecuária do Crato (Expocrato), sob a presidência de Henrique Costa. Padre Vieira chegou ao palanque, onde se encontravam Luiz Gonzaga, Patativa e Zé Clementino, montado num jumento.

Ao lembrar este fato, o jornalista Huberto Cabral destaca que Zé Clementino foi um dos mais vigorosos músicos do Ceará. É o autor de autênticos clássicos da música nordestina, tendo sido interpretado por alguns dos grandes nomes da MPB, dentre os quais o “Rei do Baião” — Luiz Gonzaga. Funcionário público aposentado, Zé Clementino, que já morou em Crato, quando trabalhava no INSS, integrou-se à vida boêmia da Princesa do Cariri, fazendo parcerias com outros artistas cratenses, entre os quais, Correinha e Hildelito Parente.

Com o “velho Lua”, o talento de Zé Clementino ganharia destaque nacional, ao passo que, por outro lado, a inventiva produção artística do compositor varzealegrense proporcionaria vitalidade e renovação à obra musical de Luiz Gonzaga. O “batismo” fonográfico da parceria Luiz Gonzaga-Zé Clementino procedeu-se, de certa forma, quando o “Rei do Baião” atravessava um longo período de ostracismo e mesmo de indefinição quanto à continuidade da carreira artística. No seu trabalho anterior, o ilustre “sanfoneiro de Exu” mostrava-se desestimulado e cético quanto aos possíveis rumos de sua até então vitoriosa trajetória musical. Numa de suas canções mais emblemáticas da época, Luiz Gonzaga lamentava: “Pra onde tu vai, Baião? / Eu vou sair por aí / Mas por que, Baião? / Ninguém me quer mais aqui...”. De fato, o Baião, assim como outros ritmos nordestinos, havia perdido o forte apelo comercial que gozara no passado, particularmente em virtude do surgimento de novos movimentos musicais — a Bossa Nova e a Jovem Guarda. Nesse panorama, foi lançado o álbum “Luiz Gonzaga – Óia Eu Aqui de Novo”, o qual continha três canções compostas por Zé Clementino. Uma delas, o “Xote dos Cabeludos”, uma bem humorada crítica à estética ‘hippie’ que conquistava a juventude de todo o mundo, tornou-se uma das músicas mais executadas do país no verão de 68, trazendo o ‘Rei do Baião’ de volta à mídia e despertando o interesse das novas gerações pelo riquíssimo acervo musical do artista.

Naquele mesmo ano, Zé Clementino confere uma legítima e emotiva dádiva à sua cidade natal, quando compõe a letra do Hino Oficial de Várzea Alegre. No seu álbum seguinte, Luiz Gonzaga grava “O jumento é nosso irmão”, uma homenagem à luta, encampada pelo Padre Vieira, em prol da preservação da espécie asinina. Em 1976, fazendo proveito do mesmo tema, o Rei do Baião gravaria “Apologia ao jumento”, uma espécie de discurso inflamado em que, com muito bom humor, exalta as benesses do “pobre e castigado” animal. Registra ainda o xote “Capim Novo”, outra canção do compositor varzealegrense, cuja letra sugere uma “discutível” alternativa terapêutica e afrodisíaca para os homens que enfrentam os “percalços” da terceira idade.

Em 1978, o Trio Nordestino, na época o campeão em vendagem de discos no segmento de música regional, grava “Chinelo de Rosinha”, uma parceria de Zé Clementino e Paulo César Clementino. Em 1983, o Brasil vê-se tocado pela sensibilidade musical do prodigioso varzealegrense Serginho Piau, que executa a comovente canção “Simplesmente Zé”, de autoria de Zé Clementino, em alguns programas televisivos. Por fim, os anos 90 marcaram o processo de revitalização estética e musical do forró, e o cearense Sirano, um dos mais bem sucedidos artistas do Ceará. Entre as suas músicas estão: “Xote dos cabeludos” , “O jumento é nosso irmão”, “Apologia ao jumento”, “Contrastes de Várzea Alegre”, “Capim novo”, “Sou do banco Xeêm”, “Chinelo de Rosinha”, “Jeito bom”, “Hino Oficial de Várzea Alegre”, e “Simplesmente Zé”. Ele faleceu vítima de enfarte no Hospital de Várzea Alegre, aos 69 anos de idade.

  
     Reportagem de HUMBERTO CABRAL.


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