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Reflexão

terça-feira, 26 de julho de 2011

Leia prefácio do livro do Dr. José Bitu

Livro - "Camisa nova, seu doutor?" - José Bitu Moreno, Será lançado em Fortaleza no Espaço Cultural Oboé, 22 de agosto.
 Prefácio
O lado de lá da montanha - Vera Brant

Uma criança que prestava atenção nas coisas simples, percebendo as nuvens se movimentando e desenhando figuras estranhas no céu, sentindo quando a laranjeira florescia e perfumava o ambiente. Um menino que se emocionava com o cheiro de terra molhada pela primeira chuva da temporada e convivia com as árvores, com intimidade e afeto. 

“Sentado em seus galhos podia ver as lavadeiras cantarem ao entardecer, pássaros que de tão leves, tão brancos, tão puros, mais pareciam flutuar naqueles troncos de escura resina. E logo o canto dos pássaros, o bramir das vacas e uma poeira dourada de esmaecida luz e singela poesia enchia os ares, amainando o tosco e o bruto”.

Várzea Alegre, com um nome tão lindo, era uma cidade “bem pequena, de cultura, tamanho e feitura igual a de tantas outras no sertão”.

O ambiente na família era de muito amor. Amor afeto, amor cuidado.

Preocupados com a educação dos filhos, os pais decidiram morar na cidade grande, na capital, Fortaleza.  Desejavam que os filhos freqüentassem bons colégios e recebessem bastante instrução, oferecendo-lhes a chance de enfrentar a vida com possibilidades de sucesso.

Os medos, a insegurança, as tristezas disfarçadas, a vontade de não ter que fingir que é forte, o susto ao enfrentar a cidade grande, a dificuldade de escolher, no Colégio, os companheiros com a mesma carga de sensibilidade e afeto, a peleja diária, tudo isso vai construindo um ser humano. 

“Os amigos haviam ficado para trás. Os brinquedos eram outros, custavam caro. As boas escolas necessariamente eram privadas e também muito caras. Teria que se trabalhar, e trabalhar muito, para perseguir os sonhos. Foi a transição da infância para a adolescência,  do mundo lúdico para o real, mas da forma brusca e cruel, sem interlúdios”.

O desapontamento com a realidade da cidade grande, os olhares desamparados e aflitos das criaturas que andavam nas ruas, os passos apressados dos que fingiam ter um destino, uma direção, um plano de vida. Tudo isso muito perturbador para um jovem vindo de uma cidade do interior, acostumado à pasmaceira, aos dias iguais, à calmaria.

“Os trabalhadores se mantinham à custa de cachaça, alimentando-se mal e inadequadamente, dentição estragada e envelhecidos precocemente”. 

“As prostitutas passavam vendendo café e chá, em bules que carregavam em estruturas de madeira amarradas às cinturas. Eram mulheres envelhecidas, com os corpos marcados por sucessivas gravidezes, buchos quebrados, como se dizia, porém amigas dos homens também sofridos, solícitas, compreensivas, flores de humanização em ambiente por demais árido”.

Na sua pequena e querida cidade, Várzea Alegre,  existe uma montanha chamada Serra Negra, que o fascinava e, ao mesmo tempo, angustiava. Fazia-o sentir-se separado do mundo, como se o morro fosse uma divisória intransponível, de costas para a sua cidade e de frente para a eternidade.
Ele sonhava terras distantes, povos interessantes, lugares mágicos. 

“Mais tarde, o mar exerceria a mesma atração.  Adolescente, já morando em Fortaleza, por vezes me demorava horas a fio mirando a linha do horizonte, recortada entre o céu e o mar, o ir e vir de jangadas e de navios, o porto. O cheiro de terras distantes era o do mar nesses instantes, e eu viajava nas lembranças de lugares onde nunca estivera e de povos que jamais conhecera”.      
O autor, quando jovem, desejou ser médico, tinha necessidade de gastar a generosidade que trazia na alma, o sentimento humano.
Casou-se com uma colega, Ieda, por quem se apaixonou e com quem teve um casal de filhos, além de uma bela carreira no exterior.
É muito bom quando a criatura faz de sua vida um exemplo a ser seguido e, sabendo escrever muito bem, conta os passos que percorreu para chegar onde se encontra.
O José Bitu Moreno é, sem dúvida, um ser humano singular e excelente escritor.

(enviado por Dr. José Bitu Moreno

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