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Reflexão

sábado, 7 de abril de 2012

TABUS E MEDOS - Por Vicente Almeida

TABUS E MEDOS


Nasci em um sitio de pé de serra denominado Belmonte, aqui no Crato-CE. Meus pais eram singelos agricultores, tementes a Deus, e não arredavam uma vírgula das informações que lhes eram passados pelos sacerdotes do seu tempo. O que eles aprenderam foi o que nos repassaram no decorrer dos anos.

Quando eu tinha cerca de dez anos fiquei sabendo por terceiros, que no último dia da semana santa, sábado de aleluia, deveria haver uma missa a meia noite, e somente poderia ser celebrada se os padres, Folheando todos os livros da igreja encontrassem uma gota de sangue, o sangue de Cristo entre as páginas de um deles. Por isto as portas ficavam cerradas. Quando o sangue era encontrado, os sinos tocavam alegres e as portas eram abertas ao público.

O meu medo era que não encontrassem a gota de sangue, pois fiquei sabendo que se não fosse localizada, o mundo acabaria naquele ano. Então nessas noites eu não conseguia pregar o olho até ouvir o sino tocar a meia noite.

Com o passar dos anos, fui crescendo, mas sempre temeroso de um dia o mundo acabar no ano em que não encontrassem aquela gotinha de sangue. Aquilo não me saia da cabeça. Mais algum tempo e fui autorizado a ir à missa do sábado de aleluia. Então me plantava na calçada da Sé Catedral ouvindo o barulho interno sem nada poder ver, e ficava também de olho no grande relógio da matriz, doido que chegasse a meia noite e que os padres encontrassem a tão esperada gota de sangue.

O leitor na idade atual e que não passou pelos tempos negros dos tabus religiosos, não pode imaginar o que se passava na cabeça de uma criança. E naqueles tempos a gente não podia conversar com os adultos sobre essas coisas, pois eles saiam com evasivas, talvez por que também não soubessem explicar como acreditavam nessas coisas. O padre estava certo e ponto final.

Quando se aproximava esse tempo, eu perdia o apetite e ninguém me fazia comer coisa alguma. Às vezes me escondia para não conversar com ninguém, e até temia tocar no assunto.

É... Fui um garoto irrequieto, mas cheio de temores e traumas, mas não culpo os fundamentos da religião por isto. Naquele tempo era o que podia ser ensinado.

Lembro-me de 1957 quando falaram que em 1960 haveria três noites de escuro, e durante a escuridão a maior parte da população mundial morreria.

Pois bem, sofri durante os três anos seguintes e passei meses sem me alimentar direito. Era horrível ser criança e não poder falar com os adultos sobre nossos temores. Talvez eles tivessem me ouvido e me orientado. Mas eu temia demais falar sobre o assunto quando cheirava a morte.

Por motivos religiosos e pelos tabus pregados como verdades, sofri muito na minha infância, juventude e adolescência. Se estou aqui narrando para vocês é por que sei que muitos também passaram por coisas semelhantes e como eu, certamente deram a volta por cima sem armazenar traumas.

Cada um tem a sua história.

Qual é a sua?

Escrito por Vicente Almeida
07/04/2012

2 comentários:

  1. Vicente:

    Na minha infância, até os 10 anos meus pais seguiam religiosamente as pregações dos padres da época. E, após vir estudar no Santa Tereza, as informações eram diferentes e já se tinha uma maturidade sobre a morte e ressurreição através dos atos religiosos. A preocupação das religiosas era rezar e fazer sacrfício durante a Semana Santa.
    VIA SACRA era constatnte e Jejum....Assim continuei por vários anos. E quanto a história do mundo se acabar fizeram até uma música que dizia mais ou menos assim: tenha cuidado que 60 vem aí e negro vai virar macaco............ Era o final do mundo nos anos 60......

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  2. ... Aí eu disse:

    Pois é Fideralina:

    Conheci a religião católica no estilo antigo e até aceitava no princípio, mas como tudo se moderniza e se atualiza, não poderia ser diferente com os ensinamentos de ordem religiosa. Mudam os tempos, mudamos nós.

    A minha sede de aprender tudo que for possível sobre Deus é inesgotável. A minha busca é pela verdade dispensando as tradições.

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