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Reflexão

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

NO TEMPO DOS CORONÉIS - Por Vicente Almeida

AMOR DE MÃE NÃO SE DISCUTE

Vai longe o tempo em que os homens mereciam o devido respeito. Quando um chefe de família passava uma ordem, não se discutia, cumpria-se sem questionamentos.

Naquele tempo vivia um abastado senhor, pai de muitos filhos homens e mulheres, que ao ficarem rapazes e moças cada um foi casando e constituindo família, até finalmente restar apenas a filha caçula.

A mais jovem da prole era uma moça muito prendada, mais o destino achou por bem pregar-lhe uma peça e ela se enamorou de um rapaz de índole pouco recomendável, que nada queria da vida.

Tudo a família fez para debelar as intenções da jovem, de criar vínculos com aquele rapaz, por que consideravam uma temeridade o namoro dela com alguém sem princípios, podendo trazer sérios transtornos para toda a família.

Mas a moça não se intimidou e continuou namorando o rapaz a despeito das ameaças paternas e dos conselhos de seus irmãos.

Certo dia o rapaz que nada tinha a perder, mandou um audacioso recado para ela, dizendo que ia buscá-la em sua casa e ninguém devia se meter. O pai, sabedor da notícia chamou a filha e disse:

- Filha minha, se tu quer mesmo viver com aquele moço vá embora daqui antes que aconteça uma grande desgraça para todos. E quando sair, ao desaparecer naquela curva faça de conta que não existimos mais. Esqueça todos nós, que nós vamos esquecer você.

A moça cuja paixão era incontrolável resolveu ir embora com o rapaz e casou com ele.

O tempo foi passando e os problemas dela começaram a surgir. Ela teve filhos e a fome foi sua primeira visita, pois o rapaz não era de trabalhar pela família. Finalmente ficaram em situação miserável chegando ao conhecimento da sua mãe.

Então a mãe, sensibilizada passou a lhe enviar periodicamente os mantimentos necessários a sua sobrevivência com os filhos, inclusive roupas e calçados usados, sem que o pai e irmãos tomassem qualquer conhecimento dessa remessa. Ela tinha sempre a cautela de preparar uma caixa e chamar um trabalhador, dando-lhe a missão de fazer aquela encomenda chegar ao destino, e isto se deu durante muito tempo.

Um dia, porém, o pai chegou em casa e surpreendeu a mulher preparando uma caixa de mantimentos. Estranhando o fato perguntou: Mulher o que é isto? Para quem é?

Ela que não queria nem pretendia mentir, apenas evitava bater de frente com o marido, assim respondeu:

- Esta caixa de alimentos é para nossa filha, que há muito tempo vem passando necessidades, e sempre lhe envio parte do que temos em abundância.

O marido achou aquilo o maior desacato de sua vida, pois havia passado ordem para ninguém, em momento algum fazer contato com ela e principalmente ajudá-la. Segundo ele, a filha havia selado o seu destino, feito a sua escolha quando abandonou a segurança do lar. 

Ela que vivesse suas amarguras.

A mulher então deixou que seu marido falasse tudo que queria e que o desagradava tanto. Ela o escutava com toda a atenção, como uma boa esposa, sem nada dizer. Ali naquele momento estava exercendo o papel da mulher que não desmerece o marido. Deixou ele bradar aos quatro ventos toda a sua macheza de coronel.

Finalmente ele disse - Você está ajudando uma estranha! E se calou!

A mulher então falou suavemente:

- Todo dia cedinho vejo você tocando as vacas para a roça deixando os bezerrinhos presos no cercado. Fico aqui na minha janela olhando, tempos depois observo que eles começam a berrar. De vez em quando vem uma delas lamber a sua cria em sinal de proteção e quando ela retorna ao pasto, o bezerrinho fica calmo e não berra mais...

...No entanto, comentou ela pesarosa, nunca vi o touro e pai vir lamber ou acariciar um SÓ deles!...?

E decidida acrescentou para concluir:

- E digo para você senhor meu marido, que o que estou fazendo é a mais natural atitude de um coração materno. Amor de mãe não respeita barreiras.

O marido que já havia silenciado ouvindo atentamente as ponderações da esposa, nada mais falou! Quando a caixa de mantimentos ia saindo, ele disse para a mulher:

- Escolhe o melhor queijo e manda pra ela!

Escrito por Vicente Almeida
23/10/2013

7 comentários:

  1. É...

    Fideralina:

    Este é mais um conto para sua coleção. Aprecie.

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  2. Vicente:

    Esse não é um causo onde se ler nas historias de trancoso. Conheci um caso bem pertinho, uma história bem próxima à minha família. O pai se intrigou até com quem tivesse amizade com a filha. No entanto, a mãe sempre a recebia em sua casa (quando o marido não estava, claro). No entanto, o sofrimento da filha era voltado para casos piores. Não era fome e sim, preocupação, já que o marido não era de boa índole. Cometeu crimes e mais crimes, os mais bárbaros.. Hoje, ela não sabe nem se ele ainda vive, sumiu, tomou "DORIL"kkkkkkkkk E se eu lhe disser que ela é valente e nunca deu importância a opinião da família.
    À mãe sempre manteve o amor, próprio de toda MÃE! Ainda hoje, sem ter mais pais, leva uma vida sacrificada. Tem dois filhos e um deles é uma pessoa maravilhosa! Ele é até meu amigo no face... Escreve bem e é bem culto. Ninguém melhor que ele fala "LATIM".
    É isso meu amigo, as histórias se estendem ao longo do tempo.
    Falo em outra ocasião de quem vos falo. Sou bem próxima à mesma.
    Abraços.

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  3. É...

    Pelo visto, o Coronel do meu conto é mais suave do que o do seu causo por que ele ouviu a voz da razão na forma do amor materno.

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  4. Ainda tem muito coronel por aí, não é questão de tempo é falta de índole mesmo.

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  5. É...

    Tem toda razão Fátima:

    Ainda temos muitos coronéis, não o legítimo militar, mas aqueles que se julgam importantes por estarem investidos de algum poder.

    Eles não percebem que tudo é temporário e esse poder, seja financeiro ou político, lhe foi concedido para fazer o bem.

    Para os simples haverá sempre uma luz no final do túnel, para os prepotentes, ambiciosos e egoístas que nunca se rendem as evidências e continuam agredindo ou menosprezando gente humilde, haverá mais escuridão. É uma questão de tempo.

    O Coronel do meu conto, se rendeu às evidências da mulher.

    Gosto de finais felizes.

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  6. O Coronel se rendeu porque sua mulher era forte.

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  7. É...

    Não Fátima:

    Ele se rendeu por que lá no fundo havia sensibilidade adormecida e a mulher foi um instrumento eficaz para despertá-lo.

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